A grandeza do anonimato, artigo de Anoushe Duarte Silveira.
Outro dia desses estava conversando com um amigo, quando ele lançou a seguinte reflexão: você já parou para pensar que grande parte das pessoas que efetivamente fazem algo para melhorar o mundo vivem no anonimato? Ele se referiu às pessoas que realizam algo e pretendem, deliberadamente, esconder a sua identidade, ou ao menos não ficam por aí alardeando suas ações…
Também seriam essas pessoas que agem no silêncio nossos heróis? A nossa história é marcada pelos feitos espetaculares e grandiosos de vários nomes reverenciados por nós. Mas parece que se o ato não se torna público e pessoal não é devidamente reconhecido. Não como um ato heroico. Não enxergamos grandeza no anonimato.
O filósofo e escritor indiano Jiddu Krishnamurti já dizia que a grandeza é o anonimato. “… e ser anônimo é a maior das coisas. As grandes catedrais, as grandes coisas da vida, as grandes esculturas são obras anônimas. Não pertencem a ninguém, em particular, tal como a verdade. A verdade não pertence nem a vós, nem a mim; ela é de todo impessoal e anônima. Se afirmais possuir a verdade, não sois então anônimo, e sois muito “mais importante do que a verdade…”
Grande então é aquele político septuagenário que recebe um salário de pouco mais de R$ 25 mil, mas doa 90% para instituições assistenciais que cuidam de pessoas pobres. Sobra-lhe R$ 2,5 mil, que segundo ele é suficiente para sustentar a família e abastecer o carro, um fusca. Ou o casal que, ao longo de vinte anos adotou mais de 23 crianças, entre elas, dois casais de gêmeos. Algumas delas têm necessidades especiais e foram abandonadas pelos pais biológicos em creches e hospitais públicos. A família se mantém com R$ 1500 e a renda da fabricação de doces. E tem ainda aquele homem que morreu ao resgatar um desconhecido que havia caído dentro de um poço de uma cisterna…
Pessoas como eles existem? Sim, existem… E é um alento a nossos corações sabermos disso, afinal, vivemos cercados de exemplos de corrupção, maldade e desgraças, amplamente alardeadas… Mas não interessa o nome do rapaz que morreu por um desconhecido ou se o político é o seu Francisco e o casal é Maria e José… O que interessa é que heróis como eles efetivamente melhoram o mundo e são exemplos reais de que grande é o anonimato.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.