A redução da pobreza na América Latina, artigo de José Eustáquio Diniz Alves.
Em 10 anos houve uma redução de 58 milhões de pessoas no número de pobres da América Latina, segundo o relatório da Cepal – Panorama social da América Latina – divulgado dia 27 de novembro de 2012.
Houve uma grande mudança nos últimos 30 anos. A pobreza cresceu em termos absolutos e relativos entre 1980 e 1990. Em 1980 havia na América Latina e Caribe 136 milhões de pessoas em situação de pobreza, sendo 62 milhões de indigentes (extrema pobreza). Em termos relativos à população total, estes números representavam 40,5% de pobres e 18,6% de indigentes. Com a crise econômica, a desvalorização cambial e o aumento do desemprego na chamada “década perdida” o número de pobres cresceu para 204 milhões de pessoas e o número de indigentes passou para 95 milhões no final da tal desastrosa década. Em termos relativos, o percentual de pobreza atingiu o percentual recorde de 48,4% e o percentual da extrema pobreza chegou também ao recorde de 22,6%. Ou seja, em 1990, quase 1 em cada dois latino-americanos viviam em condições de pobreza e quase 1 em cada 4 viviam em situação de indigência.
Na década de 1990 a pobreza continuou subindo em termos absolutos, mas começou a cair em termos relativos. Em 2002, o número total de pobres na região atingiu o pico de 225 milhões e o número de indigentes atingiu o recorde de 99 milhões de pessoas. Mas em temos relativos a pobreza entre 1990 e 2002 caiu de 48,4% para 43,9% e a indigência caiu de 22,6% para 19,3%. Ou seja, o número absoluto de pessoas em situação de vulnerabilidade subiu, mas em um ritmo menor do que o crescimento da população da América Latina e Caribe (ALC).
Porém, as notícias mais alvissareiras vieram a partir de 2003 quando as tendências dos indicadores de pobreza começam a cair consistentemente tanto em termos numéricos como em termos percentuais. Nos últimos 10 anos, entre 2002 e 2012, o número de pobres da ALC caiu de 225 milhões para 167 milhões e o número de indigentes caiu de 99 milhões para 66 milhões. Em termos relativos houve uma queda da pobreza de 43,9% para 28,8% e uma redução da indigência de 19,3% para 11,4%, no mesmo período.
A crise econômica de 2009 não chegou a reverter as tendências de ganhos nas condições de subsistência. Tudo indica que a ALC vai conseguir atingir as metas dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir o percentual de pobreza e indigência pela metade entre 1990 e 2015. Outros indicadores também melhoraram, como a redução da mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida, além das condições de educação e moradia.
Entre as nações, o Uruguai é o país que apresenta os menores índices de pobreza e indigência da região. Mas foram Argentina, Peru, Brasil e Venezuela que apresentaram os maiores ganhos na redução das condições de vulnerabilidade de suas populações nos últimos 10 anos.
A despeito da ALC ser a região mais desigual do mundo, o relatório da Cepal mostra que houve uma redução da desigualdade social no continente. As condições atuais são favoráveis para a continuidade da redução da pobreza e da indigência, pois a ALC foi favorecida pela mudança dos termos de intercâmbio, devido à valorização do preço das commodities e está em fase avançada da transição demográfica.
Paralelamente, houve um processo de redemocratização na ALC e um aumento do gasto social voltado para as populações mais carentes. Além disto existe um rico ativo ambiental, pois a região possuía, em 2008, pegada ecológica per capita de 2,7 hectares globais (gha) para uma bio-capacidade per capita de 5,6 gha, segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF. Porém, embora haja superávit ambiental no continente, o modelo econômico que incentiva o consumismo e a exploração de materias primas (para utilização interna e externa) tende a agravar a degradação da natureza e a reduzir a biodiversidade.
A despeito de todos os problemas, a América Latina e Caribe possui condições humanas e ecológicas para avançar no desenvolvimento sustentável, em sua concepção não antropocêntrica. Resta saber se as decisões políticas dos governos da ALC vão ser tomadas e efetivadas no sentido de aproveitar a janela de oportunidade que está aberta, buscando dar um salto de qualidade na vida humana e não-humana da região.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]
Publicado pelo Portal EcoDebate, 05/12/2012.