Como dizia Walter Smetak, salve-se quem souber, artigo de Anoushe Duarte Silveira

Walte Smetak
Anton Walter Smetak, o alquimista dos sons, e por que não dizer o alquimista das artes?, violoncelista, gênio da música experimental, escritor, escultor, poeta, filósofo… Definitivamente o alquimista das artes, esse suíço, que viveu no Brasil desde 1937, estaria completando 100 anos este ano. Hoje, a homenagem é para ele!
Em 1957, o suíço encontrou a Bahia, ou melhor seria dizer que a Bahia o encontrou? Em Salvador, teve ambiente para criar e experimentar novos sons, novas plásticas, novas cordas… Tubos de PVC, cabaças e outros tantos materiais viraram instrumentos; ele criou cerca de 150 dessas “plásticas sonoras”, como chamava suas criações. Segundo ele, todo esse material não era música, apenas um caminho de trazer o homem de volta a si mesmo e à Terra, seguindo os preceitos da Eubiose – filosofia de vida da qual era iniciado.
Era o luthier do novo mundo, luthier é aquele profissional especializado na construção e no reparo de instrumentos de corda com caixa de ressonância. Esse suíço-baiano também lecionou na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, onde dizem que ele tinha uma oficina experimental no porão, e influenciou toda uma geração de músicos brasileiros, entre os quais Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Marco Antônio Guimarães. Antes da Bahia o encontrar, foi professor de violoncelo no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, trabalhou na Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro e em São Paulo, no Teatro Municipal.
Como artista plástico, participou em 1967 da I Bienal de Artes Plásticas de Salvador; como dramaturgo, escreveu três peças; como escritor, produziu mais de trinta livros e dois discos. Ou seja, uma contribuição enorme para a cultura brasileira e um exemplo de inspiração para aqueles que promovem a criatividade, a experimentação, e fazem com que as artes dialoguem, afinal, Smetak, por meio de seus instrumentos, deu um corpo físico para a sonoridade que imaginava, deu forma à sua imaginação…
Smetak criou uma linguagem absolutamente nova, foi e é inspiração para tantos outros “poetas dos sons”, que cantam, tocam e experimentam o Brasil por meio da música, por meio das artes. Talvez não tenha sido mera coincidência esse suíço vir parar justamente aqui, pois experimentar é da natureza brasileira, da natureza latina, que brinca com as infinitas formas que os sons podem tomar, com os infinitos sons que as formas podem criar, rompendo com a mesmice.
Stmetak “queria construir novos homens para um novo mundo”. Acho que ele deixou suas ferramentas: intuição, criatividade, experimentação. Ouvi uma frase outro dia que achei muito sábia, “a intuição só se desenvolve por meio da vivência”. E acho que isso vale não só para a música, cinema, pintura, enfim, isso vale principalmente para a vida.
Parece que, às vezes, na vida, a gente experimenta menos que na arte. Deveria ser algo tão natural… O bebê dá os primeiros passos porque se arrisca, a criança aprende porque é estimulada todo tempo a experimentar, mas a gente vai crescendo e perde essa naturalidade, muitas vezes, prefere o caminho do medo a seguir o da coragem (frase que ouvi de um grande amigo e pedi emprestada). Na vida, como na arte, só descobre e aprende coisas novas quem tem a ousadia de experimentar, de desprender-se da comodidade do conhecido e de não se deixar paralisar… Fica aí a lição de Smetak: experimentar, criar, misturar, arriscar… Viver!
“Salve-se quem souber, pois poder, ninguém poderá mais” (Walter Smetak) .
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.