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“99 não é 100”, texto de Anoushe Duarte Silveira.

2011/10/07   admin

Ainda não havia assistido ao filme “Lixo Extraordinário”, coprodução do Brasil e Reino Unido, indicado ao Oscar de melhor documentário. A obra foi gravada ao longo de três anos e acompanhou um projeto social do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores do lixão de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Gramacho é considerado o maior lixão da América Latina.

Achei simplesmente emocionante, um daqueles documentários que te remetem a várias reflexões profundas: sobre a garra e a luta dessas pessoas que separam lixo, oferecendo-nos verdadeiras lições de vida; sobre o poder transformador da arte; sobre a nossa ignorância a respeito da realidade de tantos brasileiros que, com orgulho, sobrevivem do lixo, do nosso lixo, e conseguem enxergar o melhor no pior.

Quando o artista plástico pensou em realizar um projeto com catadores de lixo, imaginou que lá encontraria pessoas deprimidas e frustradas. Ao contrário, deparou-se com lutadores orgulhosos de sua profissão. Uma delas ao receber uma cara feia de uma pessoa dentro do ônibus responde: “o que foi, tô cheirando mal? Meu emprego é digno, é só chegar em casa e tomar um banho que o fedor passa.” Fiquei pensando em quantos “trabalhadores” usam perfume francês, mas não podem levantar a cabeça e dizer que realizam um trabalho com honestidade e dignidade.

São várias lições que esses catadores nos dão. A primeira delas é essa: refletir sobre onde está o verdadeiro lixo? Falo daquela parte podre do ser humano que julga, que rouba, que mata, que trata seus semelhante e a natureza com total descaso, do classicismo arraigado em nossa sociedade que faz com que uns se achem melhores que outros.

Outra lição é a importância do trabalho realizado, importância que muitos “letrados” ignoram e que essas pessoas que se apresentam com humildade dão uma verdadeira aula de cidadania. Uma catadora alerta: “…as pessoas se sentam em frente à televisão e disparam a jogar lixo sem a menor preocupação de para onde isso vai…” Outro catador, um senhor com 26 anos de profissão (faleceu após o término do documentário) disse: “99 não é 100”, ou seja, aquela uma latinha que você despeja na natureza vai completar o número suficiente para depredá-la ainda mais…

E não menos importante reflexão oferecida pelo documentário é sobre o poder transformador da arte. Ponto para o artista, que fez do lixo arte e enxergou onde está a maior beleza do Gramacho: o fator humano. Retratou seus rostos e os cobriu com a matéria-prima que devolveu vida e sustento a muitos deles: lixo. Depende da maneira de enxergar. Para nós é lixo, mas para eles é material a se reciclar e devolver alguns anos à natureza. Nas mãos deles, esse material vai para o local correto, já jogados indiscriminadamente na natureza causam verdadeiros estragos pois não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor.

Uma lição de vida e cidadania, uma obra de arte transformadora… Como é gostoso ver o potencial humano do nosso povo, dessa gente que realiza, que transforma. Como bem disse o catador, 99 não é 100, e no Gramacho, cada um catador de material reciclável que se soma aos outros agrega mais história de vida em comunidade e fortalece a esperança de vivermos em um mundo melhor.

Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós- graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.

Posted in: Artigo
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