Busca
-
Mais Recentes
Crédito: Inmagine http://pt.inmagine.com
Eu sei que é preciso ensinar às crianças. Ensinar a andar, a falar, a se comportar bem, a respeitar e vários outros aspectos físicos, emocionais e éticos do ser. Mas poucas vezes paramos para aprender com elas. Quanta pretensão a nossa, seres adultos, acharmos que nada temos a aprender com as crianças. A primeira lição, não necessariamente a mais importante: sorrir. A gente vai envelhecendo e vai perdendo o jeito de sorrir. O sorriso espontâneo vai dando lugar ao sorriso conveniente e adequado a cada ocasião. Gargalhada, então… Nossa!!! Artigo cada vez mais em falta no mercado para maiores de 18 anos. A criança, no entanto, vê graça em tudo. Meu filho, que tem cinco anos, dá gargalhada se alguém tropeça, se eu acordo com o cabelo bagunçado, ri do desenho animado, mesmo depois de vê-lo pela oitava vez… Ri se eu molho a roupa lavando louça e até quando, depois de empilhar todos os papeis desenhados, vem um vento e joga tudo pro ar, fazendo com que ele tenha de empilhar tudo de novo.
E das próprias trapalhadas ele dá gargalhadas. Há quanto tempo a gente não ri das nossas próprias trapalhadas? Se a coisa já está feita mesmo, só nos resta dois caminhos: ou encaramos as consequências rindo ou xingando e chorando. A criança só opta pela segunda opção se doer, fora isso ela vai rir, com certeza.
Outra lição: beijo e abraço. Por que a gente vai envelhecendo e vai economizando beijo e abraço? No máximo as pessoas dão aqueles apertos de mãos frouxos e olhar nos olhos, nem pensar. Às vezes acabamos abraçando quem a gente não gosta, novamente por conveniência, e achando altamente dispensável abraçar quem é necessário, afinal, equivocadamente, pensamos que para aquele que já está ali mesmo, ao nosso lado, não é tão urgente assim dar um abraço: ele sempre estará ali, não é? Ledo engano… A criança é muito mais sábia e espontânea, só beija e abraça quem ela gosta e, geralmente, é aquele que está ao lado dela, cuidando… Não adianta fazer ela beijar o fulano que é tão legal porque ajudou a mamãe nisso ou naquilo, a criança só vai beijar aquele por quem ela nutre algum afeto. Nunca é por conveniência.
E não economiza… Meu filho, por exemplo, só me deixa sair de casa para trabalhar se eu der dez beijos e dez abraços nele. Não adianta eu sair correndo atrasada: não há argumento. E tem que beijar e abraçar direito, não vale um frouxo aperto de mão.
Outra lição importante: se divertir com pequenas coisas. Nós, adultos, temos mania de achar que felicidade é finalmente ter o carro dos sonhos, o emprego dos sonhos, o casamento dos sonhos e nos frustramos a cada conquista não alcançada. A criança não! Ela fica feliz se a mãe deixa de trabalhar um dia pra brincar com ela, se ganha um pirulito, se descobre um novo sabor, se vai tomar um banho numa piscina improvisada com o amigo preferido. Na verdade, é a maneira de olhar o mundo, a gente vai crescendo e vai endurecendo o olhar e desaprende a enxergar o que realmente interessa. Observe como o olhar da criança é leve, por isso ela vê felicidade nas pequenas coisas. A gente endurece o olhar, talvez a vida nos endureça o olhar, e acabamos passando batido pelo que mais interessa.
Vivemos numa eterna expectativa de só sermos felizes quando algo de grande acontecer e engolimos os pequenos momentos que constroem a grande felicidade. Porque todo o resto (o carro dos sonhos, o casamento dos sonhos, o emprego dos sonhos) pode desabar num segundo ou talvez nem chegue a acontecer. Mas o sabor do pirulito e o tempo desfrutado com o amigo preferido ficam arraigados na lembrança e no coração.
Enfim, as crianças nos dão várias lições. Nos ensinam que hoje é o dia de sermos felizes porque amanhã é um dia que só se torna real quando vira novamente o hoje. Que beijo e abraço é bom molhado e apertado e de preferência em dezenas ou dúzias. E sorrir é de graça. Se os tropeços da vida são inevitáveis, é melhor encará-los sorrindo porque gritar e chorar não conserta nada. Salvo se doer. Porque se doer, o melhor mesmo é chorar e colocar pra fora e quem sabe ganhar dez beijos e dez abraços!
Na semana da criança e sempre, vamos aprender com elas!
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.