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Há alguns anos, fui assistir a um concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais ao ar livre, no Parque Municipal, centro de Belo Horizonte. Havia mais de mil espectadores, um público concentrado, silencioso e atento. Até mesmo as crianças pareciam estar tomadas por aquele sentimento de êxtase que nos invade quando entramos em contato com algo belo. Creio que a maioria das pessoas que estavam ali não tinham ideia de quem eram os compositores daquelas maravilhosas melodias, tampouco de quais instrumentos as interpretavam, mas, seguramente, apreciavam o que estavam ouvindo. Pude perceber que a música tocou com tanta intensidade algumas pessoas que até se emocionaram. Então, na época, pensei: será que realmente algumas pessoas não gostam de música clássica ou talvez seja apenas uma questão de falta de acesso a ela?
Acesso à cultura é um grande desafio… Se por um lado existe uma verdadeira indústria cultural, por outro, temos preços elevados que inviabilizam que essa variedade de shows, filmes, exposições e peças teatrais cheguem a todos. O que está faltando nesse processo?
O fato é que o acesso cultural ainda não se democratizou. O direito a ele está garantido em nossa Carta Magna, mas o exercício desse direito ainda é uma utopia. Creio que uma parte desse acesso deve ser garantido com políticas culturais, outra, nas escolas, por meio de uma educação voltada para apreciação e incentivo da arte em todas as suas manifestações, mas transformar hábitos culturais em objeto de desejo da população é uma meta de toda a sociedade.
Vemos uma busca frenética pelo ter. Nós, adultos, investimos no melhor carro, na maior casa, em roupas de grife; as crianças querem sempre a boneca mais cara, o carrinho da moda, jogos eletrônicos, sempre exponencialmente estimuladas por vitrines e comerciais. Impera o que alimenta o seu status social e não o que alimenta a alma, como as artes em geral.
Não adianta cobrarmos acesso cultural se nem mesmo em nossos lares houver espaço para a leitura, apreciação de uma boa música, tempo reservado ao cinema, ao teatro, a exposições de arte. Se cultivarmos em casa esses bons hábitos, talvez nossas crianças e adolescentes almejem com a mesma veemência ganhar um livro, do mesmo jeito que pedem a boneca ou a roupa mais cara. Talvez prefiram ir ao teatrinho a estar na frente de um computador. Então, quem sabe, mudando o foco do consumo haja muito mais interesse comercial e político em facilitar o acesso ao mundo cultural.
Não é solução, mas pode ser um pequeno passo para mudar. Com certeza, aqueles pais que levaram seus filhos para assistir à filarmônica no parque de Belo Horizonte começaram a sensibilizar o coração dessas crianças para o que de mais precioso pode-se ofertar: conhecimento.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.