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Todos os dias cruzamos com inúmeros desconhecidos. São anônimos que passam despercebidos por nós nas ruas, no trabalho, nos edifícios, ignorados em uma multidão. Assim como tantos outros personagens desta vida que promovem mudanças com suas ações, seja melhorando a vida de um indivíduo ou de milhões, sem a preocupação de obter retorno pessoal, muito menos reconhecimento. Apenas fazem.
Li uma matéria na Folha.com sobre a apresentação no Brasil do maestro venezuelano Gustavo Dudamel. Ele foi ovacionado pelas 1.500 pessoas que lotaram o Teatro Castro Alves, em Salvador. Dudamel guiou os jovens músicos da orquestra Simón Bolívar. Tanto ele quanto os músicos são frutos do Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela, um programa social criado em 1975 com foco na educação musical e no fomento de pequenas orquestras formadas por crianças e adolescentes. Criação de cidadãos a partir da cultura. Seguramente, uma iniciativa que muda o mundo.
É certo que estamos cercados de violência, corrupção, impunidade, mas existem seres verdadeiramente iluminados que vieram a este mundo para realizar algo. Assim como o sistema na Venezuela mudou e muda a realidade desse brilhante maestro e de tantos outros jovens com a música, muitos anônimos estão por aí, fazendo a sua parte. Vemos cientistas e médicos que dispõem grande parte do seu tempo debruçados em livros para descobrir a cura para desconhecidos viverem mais; pessoas que dedicam sua vida a causas nobres seja pela salvação da natureza, pela erradicação da fome, da violência; professores que caminham léguas pelo interior do país realizando trabalho de formiguinha para transmitir conhecimento a tantas crianças esquecidas por nosso sistema político.
E tem gente ao nosso lado movendo o mundo: um amigo que luta contra uma doença grave, mas não perde a alegria de viver; a senhora com cinco filhos, abandonada pelo marido muito cedo, que acorda quatro da manhã para às sete horas estar servindo café; o deficiente físico de pouco mais de 30 anos que vai cedo dar palestras para ajudar outras pessoas a vencerem as dificuldades como ele fez.
Vencer é a palavra de ordem de quem move o mundo com ações, palavras e exemplos e fazem com que a gente tenha orgulho e muita vontade de viver. São corajosos vencedores na multidão, porque, como bem disse Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.