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No último fim de semana, levei meu filho de cinco anos e uma amiguinha dele, com a mesma idade, a um espetáculo infantil chamado O Circo de Bonecos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. Enquanto não começava o espetáculo, entramos os três na exposição da artista ítalo-brasileira Maria Bonomi. A mostra traçou o trabalho evolutivo da artista, com gravuras, instalações e obras de grandes dimensões, fundidas em metal, explorando cheios e vazios.
Caso eu tivesse ido sozinha, teria enxergado a obra de arte “pura e simples”: a belíssima xilografia da artista, a beleza do relevo em concreto ou metal, a ousadia nas formas, nas cores. Mas como fui muito bem acompanhada, vi além disso. Nas gravuras, vi bruxas e duendes desdentados, nos grandes painéis enxerguei florestas coloridas; também vi bolas de futebol gigantes e um grande bico de pato dourado. Além de vários labirintos, é claro!
Sair da sua visão de mundo para viajar em outro universo é fantástico, ainda mais quando se trata do universo infantil. E a experiência do último domingo me fez refletir sobre as diferentes maneiras de se enxergar a vida. Por exemplo, um carro é solução para quem precisa acordar cedo e pegar um ônibus lotado e esse mesmo carro é visto como problema para quem gostaria de ter um modelo mais bonito, mais novo, mais caro. Trabalho é solução para quem está desempregado e precisa pagar contas e esse mesmo trabalho é problema para quem não gosta de acordar cedo, acha que ganha pouco, detesta o chefe.
Há muitas formas de enxergar uma mesma situação: tem gente que coloca magia na realidade, tem gente que vive a pura a realidade e tem gente que transforma uma vida que, para muitos, seria pura magia, em uma árdua realidade, “chorando de barriga cheia”.
Existem situações que são problema e ponto: doença, morte, drásticas separações… Mas a maioria das coisas que pensamos ser problema talvez estejam sendo vistas sob a ótica equivocada. Talvez o segredo seja refletir um pouco antes de transformar um fato em uma novela mexicana e saber dosar…
Sempre achei que a sabedoria está no equilíbrio pois até na fantasia existe sempre um pouco de realidade. Quer um exemplo? Depois da exposição, fui com os meninos ver o espetáculo infantil e quando acabou eu perguntei: “o que vocês mais gostaram?” “Da bailarina. Mas, tia, ela usava aparelho nos dentes”.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários