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Inspiração realista, artigo de Anoushe Duarte Silveira.

2012/05/03   admin

Esta semana fui a um sarau em Brasília sobre o escritor Jorge Amado. Houve leitura de textos do autor intercalados a belíssimas interpretações de músicas afro-brasileiras, com tumbadoras e atabaques, lembrando o candomblé tão presente em sua obra. E durante a narração, o que mais me encantou foi a sensualidade que pairou no ar, sensualidade que tão bem ele soube descrever em seus personagens, sobretudo os femininos. Uma sensualidade explícita, outras vezes velada, reprimida por um papel social tradicional e estereotipado que às vezes impede a mulher de ser ela mesma.

Essa capacidade de descrever a alma feminina me encanta em Jorge Amado. A todo tempo, ele apresenta essa luta interna em busca dos limites entre a depravação e o pudor, a culpa e a inocência, o santo e o profano, a liberdade e a libertinagem. Conflitos que a maioria das mulheres traz consigo em menor ou maior grau.

Gabriela, do romance “Gabriela, Cravo e Canela”, enlouquece o árabe Nacib com sua cor de canela e cheiro de cravo, suas ancas volumosas, seu jeito fogoso, sorriso farto. Apaixonado e ciumento, Nacib se casa com ela. Gabriela passa a ter obrigações que não combinam com seu espírito livre e rústico e é flagrada na cama com Tonico Bastos. Nacib dá uma surra na esposa e anula o casamento. E vem o conflito de Gabriela, não da traição, mas de culpar-se por haver casado mesmo sabendo que não suportaria a fidelidade imposta pelo casamento: “Ainda roxa dos golpes, Gabriela pensa. … Tão bom seu Nacib! Bateu nela, estava com raiva. A culpa era dela, por que aceitara casar? …Medo talvez de perdê-lo, de um dia ele casar com outra, mandá-la embora. Foi por isso certamente. Fez mal, não devia aceitar. Antes fora a pura alegria”.

Dona Flor, de “Dona Flor e seus dois maridos”, vive o conflito entre ceder aos encantos do espírito do ex-marido (filho de Exú), que em vida era um grande amante, ou manter-se fiel ao atual marido, mais velho, pacato e religioso e que lhe proporciona a segurança que ela nunca teve com o anterior. Somente ela vê o espírito do primeiro marido, Vadinho, e o fato de ser um espírito não a exime da culpa por se entregar aos prazeres “carnais”. “Que pode dona Flor dizer? ‘Vai-te embora, maldito, deixa-me honrada e feliz com meu esposo’ ou bem ‘Toma-me em teus braços, penetra minha última fortaleza, teu beijo vale o preço de qualquer felicidade’, que lhe dizer? Por que cada criatura se divide em duas, por que é necessário sempre se dilacerar entre dois amores, por que o coração contém de uma só vez dois sentimentos, controversos e opostos?”. No plano fantástico ela acaba resolvendo seus conflitos e criando um triângulo amoroso.

Tieta, de “Tieta do Agreste”, vive a dualidade entre o santo e o profano. Quando jovem, seu comportamento livre escandaliza a comunidade e é rejeitada. Quando retorna rica e poderosa, porém sem revelar sua identidade, é considerada santa pela população provinciana e preconceituosa.

E esses conflitos e dualidades tão inerentes ao mundo feminino estão presentes também na figura de Teresa Batista, Adalgisa, Manela, todas criações do mesmo mestre e inspiradas em nós, mulheres brasileiras. Nós, que somos muitas em uma só: umas com cor de canela, outras com cheiro de cravo, frágeis, guerreiras, às vezes carnais, outras santas… E sensuais, muito sensuais…

“Não me sinto constrangido, pois não sou pornográfico nem obsceno, sou escritor realista”. (Jorge Amado)

Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários. 

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