Museu Humano, artigo de Anoushe Duarte Silveira.
Somos verdadeiros museus ao ar livre. Quando digo isso, não me refiro somente às nossas belezas naturais ou aos centros históricos brasileiros restaurados ou em fase de revitalização. Penso também nas pessoas… Sim, um país com tanta diversidade étnica, cultural, linguística e por aí afora, tem um verdadeiro potencial a ser observado, apreciado, analisado, como a beleza da arte em um museu.
Em uma feliz metáfora, é fácil imaginar a beleza do povo brasileiro como obras de arte em um museu a céu aberto. Comecemos pela Ala Sul. A pele branca, como as geadas e neves que encontramos por lá. Coleção de olhos claros, herdados talvez de seus colonizadores, mesmos imigrantes que influenciaram a rica cultura da região. Observá-los em suas danças, no manejo dos aparatos na agricultura e na pecuária, no movimento sutil do chimarrão, ou no corte do churrasco é uma verdadeira obra de arte.
Subimos esse imenso museu e passamos para a Ala Sudeste. Podemos imaginar a agitação urbana como se fosse uma verdadeira instalação artística. Pessoas imersas no caos conturbado das grandes cidades, envoltas pelas luzes frenéticas da noite movimentada dos bares, teatros, cinemas ou na correria diária das negociações.
Indo para a Ala Nordeste, é fácil visualizar a pintura que é o povo nordestino. Telas pinceladas com o verde do litoral, o azul do mar, o tom alaranjado do Sertão e todo o colorido das frutas e das gentes. Um toque da arte naïf na maneira de falar outro surrealista no gingado.
Subindo até a Ala Norte, presenciamos verdadeiras esculturas feitas com a miscigenação do povo indígena. Um toque exótico da floresta modelado como na argila, na cera ou madeira. E por fim a Ala do Centro-oeste, belas fotografias de povos que migraram de todos os cantos do país. Cliques da riqueza de nossa flora e fauna, das rajadas do pôr-do-sol no horizonte único de Brasília, fotografias que falam por si.
Penso que a arte está na maneira de enxergar. Somos criação divina, perfeitos e fruto da inspiração maior. Por que não nos vermos como verdadeiras obras de arte? Obras de arte que deveriam ter maior valor que qualquer outra exposta no mais pomposo museu. Talvez seja tempo de começar a perceber e valorizar a beleza das obras que habitam nossos rios, florestas, cidades, litoral, para respeitar e cuidar de tudo que faz parte desse imenso Museu Humano que é nosso país.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.