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Para encerrar, aqui, minha participação nesse tipo de conversa (rsrs). , São efetivas as contradições entre o espaço público e as intimidades, emoções, mesmo que históricas. Esse “espaço público” virtual (web) é ainda mais difícil de ser trabalhado. Por exemplo, como “presença”, somos relativamente poucos, mas o grupo é enorme. A postura aguerrida é que conta. A “thurma” do BBMP que o diga. Como espaço público é a mediação entre todos os presentes, qual será a mediação a ser feita, aqui?
Já retirei dois posts que fiz por aqui, porque, depois, achei inadequados, para mim. Havia feito sob a influência de uma intimidade que tenho no contato “real” com amigos, mas não tenho com o espaço público, por ser público e por características pessoais.
Joelson, por exemplo, tem um estilo público que não tenho competência para exercitar, mas admiro. A capacidade de tratar emoções específicas e visões pessoais, em público. Isso vem dos repentistas xique-xiquenses, consolidado na urbanidade aguerrida e cheia de autoridade dos “Poetas na Praça”.
Ao final de tarde – ainda na ditadura – o pôr do sol e os que voltavam do trabalho para casa, pelo centro de Salvador, na Praça da Piedade – histórico espaço onde os líderes da Revolução dos Alfaiates foram expostos, depois de esquartejados -, assistiam uma louvação à liberdade. Mesmo sem explicitar, o evento era um desejo da liberdade futura e um balsamo a todos os militantes daquele presente. Pelo menos é assim que via e vejo. Joelson era um dos principais comandantes daquela empreitada poética, junto com Antônio Short, Zeca Magalhães, Geraldo Maia, Ametista Nunes, Eduardo Teles (in memorian), Pedro Cézar, Agenor Campos (in memorian) e Gilberto Costa.
A coisa foi tão séria que, na Assembléia Legislativa, sob a liderança do Joelson foi organizado a comemoração dos 10 anos do Grupo, em 1989, inclusive um material gráfico impresso com o poema do Joelson, “PIEDADE POESIA”, escolhido democraticamente, entre os poetas, para a comemoração. Foi um acontecimento, à época, na Agenda Cultural soteropolitana.
Frente a tudo isso e sob o comando da emoção, eu ficava posicionado, na “PIEDADE POESIA”, na segunda ou terceira roda de pessoas, que iam se juntando para ouvir aqueles poetas. (Ita, parece ter o estilo mais próximo disso). Alguns até achavam aqueles poetas “malucos”, mas eram os malucos consagrados por Raul, “malucos beleza”. Além disso, a empreitada político-cultural possuía um formato que a população tinha total identidade .
Reproduzia a ação dos vendedores de ervas nas feiras e praças públicas. Assim como nos círculos dos vendedores de ervas, xaropes, preparados e porções diversas, os poetas da praça repassavam as soluções para tudo: mal de amor; falta de liberdade; combate à escuridão; mediocridade e tinham, até mesmo, “remédio” para quem tivesse problemas de alma com “espinhela caída” e “dor de facão”, de amor não correspondido.
Os “médicos” e as receitas iam de Gregório de Matos a Pedro Tierra (Hamilton Pereira), Dom Pedro Casaldáliga e composições próprias e de poetas locais.
Vejam o estilo das poesias de Pedro Tierra, que eram ditas.
“[…]
Porque sou o poeta
dos mortos assassinados,
dos eletrocutados, dos “suicidas”,
dos “enforcados” e “atropelados”,
dos que “tentaram fugir”,
dos enlouquecidos.
[…]
meu ofício sobre a terra
é ressuscitar os mortos
e ap ontar a cara dos assassinos. […]“
(Poema-prólogo, Pedro Tierra)
Fico imaginando como as pessoas que passavam e/ou paravam se relacionavam, com esse tipo de texto. O que da nossa dor era incorporada por elas.
Bem, a síntese é: o fato é que, em público, só me responsabilizo pelos meus textos racionais. E isso, devo dizer, não por discordâncias com quem faz diferente, mas por estilo, jeito e limitações.
Sobre diferença de estilo, já mandei, para algumas pessoas, a mensagem abaixo, falando da unidade e diversidade entre Caetano e João Gilberto, que explica a possibilidade de existir identidades profundas entre estilos diferentes: a essência e a poesia da vida é que contam.
Segue abaixo, a historinha de Caetano e João Gilberto:
O Caetano Veloso voltou do exílio em 1972. Nos shows, se apresentava rebolando e vestindo umas batinhas, calças folgadas e outras mumunhas mais, enrolando o cabelo, displicentemente etc. Coisas que chamavam mais a atenção naquela época, que hoje. Entre as opiniões que Caetano mantinha, estava a profunda admiração por João Gilberto, como uma das maiores expressões da cultura brasileira.
Em um determinado momento, em entrevista, um jornalista perguntou a João, como ele explicava que o Caetano, com aquele perfil e estilo, se identificava tanto com ele, tão formal e que só cantava de paletó e gravata, sentado em um banquinho. Inteiramente sisudo.
A resposta do juazeirense foi: “Vc nunca percebeu que tenho todo aquele rebolado, leveza e simplicidade na minha voz? Essa é a identidade.” (citado livremente).
As, identidades verdadeiras baseiam-se em aspectos mais profundos, não em formas ou estilos, por mais legítimos que sejam. Joelson é dono de um estilo inconfundível e, em minha opinião, indispensável ao espaço público, para acabar com a mesmice. Eu, quando crescer, quero ser assim.
Abraço
Luiz Nova