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Se as rosas falassem, artigo de Anoushe Duarte Silveira

2013/05/27   admin

Dona Zica com Cartola.

Há um antigo ditado que diz: atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Não sei se concordo muito com o atrás, pois sou mesmo a favor das coisas equilibradas. Mas ao lado sim. Ao lado de um grande homem há sempre, ou quase sempre, uma grande mulher. A homenagem de hoje vai para essa grande mulher, Dona Zica, pseudônimo de Euzébia Silva do Nascimento, que este ano completaria 100 anos. Ela foi sambista da velha guarda da Estação Primeira de Mangueira e foi a última mulher do saudoso sambista Cartola.

Dona Zica foi um grande símbolo do carnaval carioca e ficou mais conhecida após se casar com Cartola. Eles se conheciam desde jovens mas nunca haviam namorado, eram vizinhos no Morro da Mangueira, onde moravam. Não namoraram pois Zica já estava comprometida e na época a mulher era mal vista se o seu noivado fosse desfeito.

Zica casou-se aos 19 anos com seu primeiro marido, teve cinco filhos biológicos e um adotivo. Ficou viúva após 20 anos de casada. Cartola também se casou, porém não teve filhos porque era estéril. Após ficar viúvo, viveu mais de 10 anos longe da Mangueira. Um dia, voltou e reencontrou sua antiga amiga, Zica, começou a se interessar mais por ela e passou a namorá-la. Casaram-se e viveram juntos 26 anos, até a morte dele, em 1980.

Dona Zica, morreu aos 89 anos de problemas cardiovasculares.

Reencontrar um companheiro de infância após os 40, ainda mais sendo ele o Cartola, deve ter sido um grande presente. Por outro lado, não deve ter sido fácil ser mulher do Cartola em meio a tanta boemia… Mas parece que ela teve jogo de cintura. Em uma entrevista que ela deu em 1994 ao programa Roda Viva, quando questionada sobre ciúmes respondeu que não tinha. “Nem ele tinha de mim e nem eu dele, porque eu sabia, eu compreendia que a vida dele de artista era uma vida boêmia. Não ia estar eu na luta, ele fazia o que ele queria. Meu prazer era ver ele fazer o que ele queria. Aí teve uma vez nós estávamos brincando, assim coisa de marido e mulher, conversando, eu disse assim: “Ah, você não gosta de mim, você gostou das outras mulheres que você teve e tal”. E ele: “Ah, mulher, deixa de dizer bobagem, não tem o que falar, fala bobagem”. Daí daqui a pouco, ele veio “tive sim, outro grande amor, antes de ti, eu tive, sim”.

Também foi em homenagem a Dona Zica que ele compôs “As Rosas não Falam”, em 1976, um de seus maiores sucessos. “Eu me espantei com a quantidade de rosas que nasciam no jardim e perguntei ao Cartola se ele sabia o motivo”, ela contou em entrevista. “Ele simplesmente me respondeu: “Sei lá, as rosas não falam”, disse. Quinze dias depois, o samba estava pronto.

Provavelmente viveu intensamente os prazeres e as agruras de se casar com o maior sambista da história da música brasileira. Mas suspeito que carregando o samba e a alvorada do morro no coração devem ter sido mais alegrias que tristezas, afinal como bem diz um das lindas composições de cartola “Alvorada lá no morro, que beleza/Ninguém chora, não há tristeza/Ninguém sente dissabor/O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo/E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo…”

Dona Zica foi uma daquelas mulheres guerreiras, que começaram cedo, igual a muitas heroínas brasileiras. Aos 7 anos, a menina foi obrigada a trocar a escola pelo trabalho de empregada doméstica na casa de uma das patroas da mãe.

Para chegar ao trabalho, pegava dois bondes, de segunda classe. Na casa onde trabalhava, chegou a levar surras quando a patroa não ficava satisfeita com o serviço. Ao lado do primeiro marido, Zica foi tecelã, cozinheira e lavadeira.

Por isso ela foi a grande mulher ao lado de Cartola e não atrás… Juntos por 26 anos, juntos integrando a Velha Guarda da mangueira, juntos ao abrir um restaurante no centro do Rio, que promovia encontros de samba e boa música, e juntos ao contribuir para enriquecer a nossa qualidade musical, cada qual à sua maneira. Se as rosas falassem diriam que foi uma grande mulher!

Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em coautoria, selecionados em concursos literários.

Posted in: Artigo   Tags: Cartola, Dona Zica, Mangueira, Velha Guarda da Mangueira
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