Dominguinhos, de volta para o seu aconchego, artigo de Anoushe Duarte Silveira

Dominguinhos
“O candeeiro se apagou, o sanfoneiro cochilou, a sanfona não parou e o forró continuou …” Como bem disse o saudoso Luiz Gonzaga, foi-se o sanfoneiro, mas a sanfona não para e o forró continua. Quando perdemos Gonzagão, o forró continuou com seu herdeiro artístico, Dominguinhos, e, agora, a música e o legado de Dominguinhos permanecem nas sanfonas desse Brasil, perpetuando nossos ritmos tradicionais.
O talento de José Domingos de Morais, nascido no interior de Pernambuco, veio precocemente. Na infância, ele e os irmãos formaram o trio Os Três Pinguins, no qual tocava sanfona de oito baixos. O pai, mestre Chicão, era um bom afinador do instrumento. Aos oito anos, em1949, chamou a atenção de Luiz Gonzaga quando tocava seu fole na porta de um hotel para ganhar uns trocados e ajudar a família. O sanfoneiro lhe deu um número de telefone e pediu que o garoto o procurasse no Rio de Janeiro, o que só aconteceu alguns anos depois. Dominguinhos havia se mudado para lá com a família.
Dominguinhos enveredou por outros gêneros musicais como o samba e o bolero e teve inúmeros parceiros como Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Moraes Moreira entre outros, mas Luiz Gonzaga o guiou durante a vida toda. De tanto observar o mestre, Dominguinhos aprendeu muita coisa com ele. “Só observando”, como afirmou em uma entrevista de rádio há alguns anos. Até o apelido “Dominguinhos” lhe foi dado por Gonzagão.
Ambos tocaram o nordeste como ninguém, com a força do banzo que fazia a sanfona chorar. Letras intensas que marcaram a vida de muita gente, pois falam de sentimentos universais. Principalmente a saudade… A palavra saudade esteve presente em muitas de suas letras, talvez uma maneira de preencher o vazio que causava a distância do sertão e de sua gente. A arte é assim, não é? O que nos sobra, jogamos nela…
Ficamos então com esse rico legado que ele nos deixou, nos identificando quando ele diz, por exemplo, que sente falta de um cheiro que dá prazer e te deixa nos braços da paz… Ou quando sente falta de um bem, de um xodó, de um amor que acabe com nosso sofrer, ou do tanto que é duro ficar sem alguém que a gente goste, vez em quando, “… parece que falta um pedaço de mim…”
Como aconteceu na infância, agora Gonzagão convidou novamente Dominguinhos a seguir com ele… Foi de volta para o seu aconchego e a mala cheia de saudades ficou por aqui…
De volta pro aconchego Dominguinhos Estou de volta pro meu aconchego Trazendo na mala bastante saudade Querendo um sorriso sincero Um abraço para aliviar meu cansaço E toda essa minha vontade
Que bom poder estar contigo de novo
Roçando teu corpo e beijando você
Pra mim tu és a estrela mais linda
Teus olhos me prendem, fascinam
A paz que eu gosto de ter.
É duro ficar sem você vez em quando,
Parece que falta um pedaço de mim.
Me alegro na hora de regressar,
Parece que vou mergulhar na felicidade sem fim.
Anoushe Duarte Silveira é brasiliense, jornalista e bacharel em direito, pós graduada em documentário – com especialização em roteiros. Possui textos publicados em jornais e revistas e nos blogs http://www.amigas-da-leitura.blogspot.com/ e http://www.recantodasletras.com.br. Possui livros publicados em co-autoria, selecionados em concursos literários.